segunda-feira, 8 de junho de 2009

DEFICIÊNCIA - resultados benéficos da inclusão.

Por: joeverson Barbosa

Rain Man (1988, United Artists) é um filme comovente. Nele o telespectador entra na vida de um homem autista (Dustin Hoffman) e seu irmão, Charlie Babbitt ( Tom Cruise), durante os dias em que estes passam juntos nos E.U.A. dos anos 80, quando vão saber da existência de um e de outro pela primeira vez.

Charlie, o irmão caçula é dono de uma vendedora de carros esportivos - até então ele se considerava filho único. Recebe a noticia de que seu pai, um homem viúvo de quem estava afastado há muito tempo por traumas na adolescência, acabara de morrer. Quando vai assinar os documentos relacionados a sua parte na herança, tem um surpresa: descobre que a maior parte desse dinheiro fora doada a uma instituição para pessoas com deficiências mentais. Ao tentar descobrir o motivo dessa doação tem uma surpresa ainda maior: a existência de um irmão mais velho, autista, internado nessa casa desde à infância de Charlie.

E quais foram as atitudes tomadas por esse caçula? Movido primeiramente pela cobiça, rapta seu irmão desse referido estabelecimento para tentar, aproveitando-se da deficiência do primogênito, apoderar-se da outra parte da herança. Mas, através disso, acaba apoderando-se é de outra coisa: de um passado totalmente desconhecido para ele. Tantas e tão preciosas evocações resgatam do esquecimento um modo de vida que era para Charlie, um self-made-man (homem de negocio) convicto, apenas um passado longínquo, que, graças ao irmão doente, faz com que volte a sorrir novamente, curtir a vida.

O filme, no entanto, guarda outras riquezas: por exemplo, o resultado da inclusão de um autista na sociedade; pois, Rain Man ficara, esse tempo todo, isolado em uma instituição com suas modalidades de exclusão. Se até hoje o autismo é considerado uma doença que representa um enorme desafio para médicos, educadores e familiares , naquele anos em que o filme fora lançado obviamente que a questão era menos discutida ainda.

Nesse sentido, a questão da inclusão de pessoas com deficiência pode ser analisada no longa, pois, como já dissemos, o efeito benéfico de que essa saída de Rain Man da instituição trouxe para Charlie, demonstra também que a interação apresenta efeitos positivos não somente nas atitudes dos portadores de deficiências, mas nas daqueles considerados normais.

Como resultado disso, podemos considerar que, quanto mais cedo a pessoa especial for estimulada pelo convívio com outras tidas como normais, melhor será o resultado quando adulto, tanto para ela quanto para os envolvidos nessa relação. Dessa forma, chegamos a inclusão dessa pessoas no ambiente escolar; o acesso à educação em idades precoces é um fator decisivo para compensar muitas das dificuldades que essas pessoas vivênciam em consequência de sua deficiência. E entre essas dificuldades, pelo menos na América Latina, está a da pobreza. Mesmo que alguns países, como o Brasil, contemple em suas legislações o atendimento a alunos com necessidades especiais, sabemos que isso não acontece na realidade.

Apesar disso e mesmo o autismo ser definido pela organização Mundial da Saúde como um distúrbio do desenvolvimento, sem cura e severamente incapacitante, pesquisador como Mantoan (1987/1991) comprovou experimentalmente que a solicitação do meio escolar resulta em benefícios para o desenvolvimento das estruturas lógicas concretas nos portadores de deficiência intelectual. E também, como dissemos, da troca de experiência e conhecimento que essa inclusão trás para os alunos normais.

Ainda com relação as dificuldades encontradas pelos deficientes, existe a pior delas: o preconceito. O filme evidência isso e o jogo de interesses de uma sociedade conservadora americana que tenta esconder seus doentes, como fizera o pai de Rain Man, relembrando uma pratica muito comum na idade média. No entanto, os Estados unidos se tornaram pioneiros nessa tarefa de inclusão, principalmente (ou providencialmente?!) no mercado de trabalho. Criaram a figura do jobcoach, pessoa capacitada que primeiramente analisa a estrutura do ambiente do trabalho e suas tarefas, para depois treinar o autista até que este consiga desempenha-la de forma independente.

Outra e não menor riqueza no filme é a bem acertada interpretação por parte dos atores, Dustin Hoffman, como Rain man e Tom Cruise como Charlie . Hoffman, a exemplo do que já fizera no papel do peculiar Louis Degas em Papillon consegue encarnar uma pessoa portadora de deficiência sem recair em modelos caricatos. O resultado não poderia ser diferente: o longa, embora traga a tona um assunto tão dramático, tem passagens divertidissímas que acaba constituindo um ótimo filme para assistir com a família.

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